Aproxima-se o Natal.
Há
mais de dois mil anos nascia o Salvador dos homens. Depois da Páscoa da
Ressurreição, essa é a festa mais importante para toda a Cristandade.
Nesses mais de 2000 Natais da História, quantos fatos e exemplos
memoráveis se deram. Seria necessária uma grande coletânea de livros
para narrar tantos acontecimentos desde o primeiro Natal — a Natividade
por excelência —, passando pelos Natais durante a perseguição romana e
as abençoadas comemorações natalinas da Idade Média. Avançando na
História, por fim chegaríamos ao século XXI, reconhecendo (com quanta
dor!) que o verdadeiro significado do Natal foi sendo deformado e
dessacralizado.
Não é,
porém, nosso objetivo analisar aqui todos os ricos aspectos que
apresenta o Natal, mas sim relembrar, mediante alguns poucos exemplos, a
grandeza dessa data, e quanto ela influenciou e quanta ascendência
ainda exerce na sociedade hodierna.
É tocante lembrarmos o
Natal Chouan, belo fato que se passou durante a Revolução Francesa. O conto narra que um dos valorosos
chouans — camponeses católicos do oeste
da
França, que se levantaram contra a Revolução Francesa — era cativo das
hordas revolucionárias. Apesar da implacável ferocidade de seus algozes,
ao toque do sino anunciando a Noite Santa foram estes tocados tão
fortemente pela graça, que o libertaram.
O que dizer sobre o interessante conto Natal na Trincheira? Em plena Segunda Guerra Mundial, uma parte dos combatentes cessa as hostilidades e sai de suas trincheiras cantando o Stille Nacht; e o inimigo, tomado de espanto, percebe tudo: era a noite de Natal!
Seria
pouco, se ficássemos apenas no campo dos fatos externos que marcaram o
Natal em todas as épocas, pois esse magno acontecimento inspira nas
almas variados temas, e nos oferece também lições de virtude e grandeza
de alma.
Assim, merece destaque a despretensão de um Franz Grüber, compositor do
Stille Nacht (Noite
Feliz), que se tornou a canção natalina por excelência. Ela poderia ser
hoje atribuída a autor anônimo, caso o Imperador da Prússia, Frederico
Wilhelm IV, não tivesse ordenado que se localizasse o compositor de tão
sublime melodia.
É digno
de nota quanto o Natal inspirou povos e nações. Deus cumulou cada povo,
quase cada região, de graças especiais, a cada um propiciando uma
compreensão única do Natal, diversa da intelecção de qualquer outro
povo. Isso é espelhado no modo de comemorar, nas músicas e nos ambientes
natalinos.
Através de
músicas natalinas próprias, o espírito espanhol manifesta sua particular
vivacidade. Num ambiente festivo, esse povo revela sua alegria
esfuziante pelo nascimento do Redentor.
De
outro lado, as músicas natalinas alemãs ressaltam, de modo especial,
toda a serenidade e inocência do clima próprio ao Natal, visto pelos
germânicos.
O italiano, o
polonês, o a ustríaco, o inglês (este, na medida em que conservou sua
fidelidade à Santa Igreja), enfim, todos os povos cristãos souberam
expressar, cada um a seu modo, o que o Natal representa para cada um
deles.
A verdadeira glória nasce da dor —
escreveu Plinio Corrêa de Oliveira. Quantos povos e quantas pessoas
conheceram em seus Natais o sofrimento e a perseguição! É ainda hoje o
caso da China, de Cuba e outros países. E essa circunstância, em tantos
casos, só fez aumentar nesses católicos sofridos a fé e o amor pela
Santa Igreja.
Há uma bela música de Natal inglesa intitulada
Twelve Days of Christmas (Os
12 dias do Natal), pouco conhecida entre nós, e que surgiu durante a época da perseguição anglicana contra os católicos naquele país, no
século XVI.
Com a
pseudo reforma protestante, países como a Inglaterra, ao abandonarem o
regaço da Santa Igreja e caírem na heresia, começaram a perseguir os
católicos, tornando quase impossível a prática da verdadeira Religião.
Para comunicar aos fiéis a sã doutrina e poderem celebrar sem medo de
represálias o Natal do Salvador, segundo a tradição da Santa Igreja,
católicos ingleses compuseram tal música, que é um catecismo secreto, porquanto expressa em símbolos a realidade de nossa fé. Ela foi também utilizada muitas vezes durante a Revolução Fr ancesa.
Ei-la:
https://www.youtube.com/watch?v=UA9n668NYOs
“No primeiro dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: uma perdiz numa pereira.
No segundo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 2 pombas-rolas e uma perdiz numa pereira.
No terceiro dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 3 galinhas francesas, 2 pombas-rolas e uma perdiz numa pereira”. (Dia após dia, ela vai narrando, em ordem decrescente, o que o “meu amor deu-me”).
“No quarto dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 4 pássaros cantando...No quinto dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 5 anéis dourados...
No sexto dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 6 gansos chocando...
No sétimo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 7 cisnes nadando...
No oitavo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 8 servas ordenhando...
No nono dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 9 senhoras dançando...No décimo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 10 lordes saltando...
No décimo primeiro dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 11 flautistas tocando...”
E termina dizendo:
“No décimo segundo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 12
tocadores de tambor, 11 flautistas tocando, 10 lordes saltando, 9
senhoras dançando, 8 servas ordenhando, 7 cisnes nadando, 6 gansos
chocando, 5 anéis dourados, 4 pássaros cantando, 3 galinhas francesas, 2
pombas-rolas e uma perdiz numa pereira...”Qual o significado da letra dessa música?
Primeiro dia
O meu verdadeiro amor é Deus Pai. E a perdiz na pereira simboliza
Nosso Senhor Jesus Cristo. A perdiz é um animal corajoso, capaz de
lutar até amorte ara defender seus filhotes. E a pereira representa a
Cruz.
Segundo dia Duas pombas-rolas representam o Antigo e o Novo
Testamento. Durante séculos, judeus ofereciam pombas a Deus. As duas
pombas lembram o sacrifício de Nossa Senhora e São José oferecido por
Nosso Senhor.
Terceiro dia
Três galinhas francesass representam
as três virtudes: fé, esperança e caridade. Essas galinhas
eram muito caras durante o século XVI e só os ricos tinham condições de
comprá-las. Simbolizavam os três presentes ofertados pelos Reis Magos a
Nosso Senhor: ouro, o mais precioso dos metais; incenso, usado nas
cerimônias religiosas solenes; e a mirra, uma especiaria sem igual.
Quarto dia
Quatro pássaros cantando representam
os quatro Evangelhos. Neles estão contidos a vida de Nosso Senhor e
seus ensinamentos. Como pássaros cantando de modo claro e em alta voz,
os quatro Evangelistas espalham por todo o mundo a Boa-Nova da Vida,
Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Quinto diaCinco anéis dourados representam os cinco primeiros livros do Antigo Testamento ou o
Pentateuco (
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio),
que lembravam aos católicos suas raízes. Os judeus consideravam esses
livros mais valiosos que o ouro. E depois que a devoção do Rosário
tornou-se mais conhecida, lembravam as cinco dezenas do Rosário da
Bem-aventurada Virgem Maria.
Sexto dia
Seis gansos chocando representam
os seis dias que Deus empregou na criação da Terra, do Universo e das
criaturas. Os seis gansos chocando ovos recordam como a Palavra deu vida
à Terra.
Sétimo dia
Sete cisnes nadando representam os sete sacramentos e
também os sete dons do Espírito Santo. Com os sacrame ntos e os dons, os
fiéis poderiam sustentar-se através dos tempos de perseguição. Como os
filhotes de cisnes transformam-se de
patinhos feios em belos cisnes, assim a graça de Deus nos transforma de simples criaturas em filhos de Deus.
Nono dia
Oito servas ordenhando representam
as oito bem-aventuranças pregadas por Nosso Senhor no Sermão da
Montanha. As bem-venturanças, como o leite, alimentam e nutrem o
católico.
Nono dia
Nove senhoras dançando são os nove frutos do Espírito
Santo (Gal. 5, 22-23): caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade,
bondade, fidelidade, brandura e temperança. Da mesma forma como as
senhoras que dançam alegres, os cristãos podem alegrar-se com a vida
transformada pelos frutos do Espírito Santo.
Décimo dia
Lordes pulando simbolizam os 10 Mandamentos da Lei de Deus. Os Lordes eram homens com autoridade para governar e disciplinar o povo.
Décimo promeiro dia
Onze flautistas tocando representam
os 11 Apóstolos que permaneceram fiéis a Nosso Senhor, após a infame
traição de Judas. Como crianças que seguem alegremente o flautista,
esses discípulos acompanharam a Jesus. Eles também chamaram outros a
segui-Lo. E tocaram uma canção eterna: a mensagem de salvação e da
ressurreição após a morte.
Décimo segundo
Doze tocadores de tambor representam os doze artigos
do Credo. Assim como eles tocam sonoramente para que os outros
acompanhem o ritmo da música, o Credo revela a fé daqueles que são
chamados cristãos.
Muitas pessoas não imaginam quais são esses
12 Dias de Natal. Trata-se dos dias entre o Natal e a Festa da Epifania, a qual é tradicionalmente celebrada no dia 6 de janeiro.