Na minha ótica utópica sentado você estava e com as pernas esticadas eu via uma parte delas cruzadas, você mexia um pé no outro, dando a visão de fundo para um armário de madeira à sua esquerda e uma parede branca, sem nada, à sua frente. Lá no canto havia uma gaveta embutida nesse armário, era larga e baixa, você guardava sapatos ali, ela estava aberta, cheia de chinelos e havia um que se destacava fora dela no chão. De repente você não está mais sentado, está de pé e neste mesmo armário da gaveta dos chinelos, na outra ponta há uma porta embutida nele, ela está aberta para outro ambiente. Ali você estava, de camiseta branca, bermuda escura e chinelo, estava bem à vontade, afinal você estava em casa. Por alguma razão você se dirigia a mim, mas eu não via meu corpo, como se eu estivesse ali de forma real bem na sua frente. Então você sorri, como se tivesse algo importante a dizer, parecendo sem jeito e ao mesmo tempo confortável de maneira frugal. Sua credulidade moderada revela o que está a sentir, você tinha uma luz própria dando mais vida às suas reações, estava esplendoroso me fazendo acompanhar seus lábios, admirando seu sorriso enquanto justificava seu amor, que como uma mágica me hipnotizou por cada movimento que se desenvolvia com o sentimento de suas palavras...Nesse instante eu me senti lisonjeada, estupefata por não acreditar que esse momento tão esperado havia chegado. Então, foi que uma tristeza se instalou dentro do seu ser, fazendo-o cair curvado no chão, ficando como um feto, indefeso. Sem camisa você de repente está, vejo e sinto as minhas mãos no seu corpo, sentindo a emoção de poder tocar em você, nitidamente vejo a perfeição do seu corpo, os seus ossos sobressaltados sob sua pele, minhas mãos seguindo a linha da sua coluna, podendo sentir também seu calor e sua dor. E então, as minhas mãos nas suas costas deslizam carinhosamente para um abraço e ali eu deito no chão me encaixando em você, te protegendo com o meu carinho e enquanto as minhas lágrimas caem tento livrar a nós dois dessa dor repentina que lhe fez desmoronar e a mim emocionou, me fazendo te cobrir e saciar-te com todo o meu amor. Por ironia, agora acordada estou e sem o meu amor, mas eu tenho várias noites para voltar a dormir e tentar encontrá-lo para dar continuação ao que não terminou. E veja só, para o inferno te mandei e para o inferno e paraíso dos meus sonhos você foi e ali você acreditou no meu amor. Chego a conclusão de que não posso viver com ou sem você.
