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registro: 15/03/2007
"Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação."
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Manual prático do “vagabundo” – em 10 lições

“Penso que antes de qualquer dica de investimento vale a pena definir o objetivo de cada um com relação à conquista desse ‘objeto’ tão desejado no capitalismo: o dinheiro. Ele nos serve tanto de meio de troca, em nossas compras diárias, quanto reserva de valor, como ressaltado por Keynes; isto é, dinheiro que guardamos para compras futuras – que, em linhas gerais, chamamos de poupança. Nesse sentido, acho que minha experiência própria serve de referência.

Utilizo o meu caso pois muitos pensam que sou rico apenas por entender de economia, de bolsa, um pouco de investimentos diversos, etc; ou simplesmente por me verem à toa mesmo. Dizer que ainda não cheguei no meu primeiro milhão não seria surpresa alguma, mas afirmar que não estou nem aí pra isso talvez cause espanto. E isso pra mim tem uma explicação lógica, que é o conceito de riqueza. Se a idéia de ser rico é associada aos milhões que se tem na conta bancária definitivamente eu jamais serei um, porque efetivamente não estou preocupado com isso. Acho que ser rico é saber viver e administrar bem a vida e o patrimônio que se tem, mesmo que seja pouco. Indo além, riqueza pra mim é liberdade, ou seja, não significa necessariamente quanto acumulei em patrimônio, mas o quanto consigo comprar de liberdade com ele. Digo comprar porque o trabalho pra mim é uma relativa prisão. Acho que pra maioria também, pois se pudéssemos trabalharíamos apenas três dias na semana e folgaríamos o resto. E é exatamente isso que faço, hoje. Cheguei ao ponto de comprar 2 ou 3 dias de folga na semana, no meio da semana.

Convenhamos, eu também sou louco por uma Ferrari, uma Lamborghini, ou só por um “simplório” Porsche – tenho até uma desculpa boa pra não comprar um dos três, nenhum deles sobe rampa de vôo. Mas aí paro pra pensar o quanto teria que trabalhar pra ter um brinquedo desses (não quero nem lembrar do IPVA e do seguro), ou pra ter uma casa com 10 suítes, um barco de 30 pés, etc. E só de pensar nisso já fico cansado. Confesso que muito patrimônio dá trabalho demais, e sou muito preguiçoso pra cuidar desse monte de coisa, dos marinheiros, das governantas, dos jardineiros, dos vigias etc etc. Eu gosto do ócio, e trabalhei a minha vida toda, confesso que nem foi toda, pra comprá-lo. E consegui – sem herança ou patrimônio algum deixado pelos meus genitores.

Mas um dia serei milionário, não por vontade, mas por necessidade. Como já falei no artigo “brincando de tio patinhas”, quando colocamos a inflação, 1 milhão hoje pode não ser nada daqui a uns anos, já que a inflação comeu boa parte disso. Logo, eu preciso ser um milionário apenas para manter o meu poder de compra atual lá na frente.

Portanto, compre o seu ócio, seu sossego, seja feliz com o que tem e cuide com carinho dessa sua pequena poupança, pois já vi gente que tem muito perder tudo por não saber se regrar. E estou falando obviamente daqueles que realmente vêem o trabalho como uma relativa prisão, porque se você sonha em ser o Eike Batista, ou gosta de trabalhar o dia todo por sentir prazer nisso, este artigo não te serve em nada. Nesse caso vai me achar mesmo um vagabundo, e não “vagabundo”. Ou seja, são estilos de vida diferentes, e não critico os que trabalham incessantemente. Acho que cada um faz o que dá mais prazer, e se o trabalho intenso dá, faça-o! Mas se você trabalha muito e sofre com isso, mesmo fazendo o que gosta, por não ter folga ou por não ter dinheiro suficiente, acho que as dicas podem ajudar.

Uma colega de trabalho comenta que chego sempre bronzeado e me chama, carinhosamente e em alto e bom som, de vagabundo – na verdade “vagabundo”. O que muitos não sabem é que até chegar aqui, até comprar essa “vagabundagem” trabalhei e estudei muito, e poupei o suficiente; ou seja, inverti minhas prioridades. Troquei as noitadas e cachaçadas pelo estudo. Foi a minha opção, na verdade a única, pois meus pais sempre foram pessoas simples. E há quem diga que não vivi por ter estudado muito – se alguém acha que penar um pouquinho no começo pra chegar aos 35 tirando 3 dias de folga por semana é sofrimento assim acho mais é que tem que tomar muita cachaça e torrar todo o dinheiro mesmo.

Penso que a primeira regra pra se tornar um “vagabundo” é não ser, no início, vagabundo; mas, o contrário, estude e trabalhe muito. Isto é, a maior esperteza do vagabundo é que ele não pode crescer vagabundo, pois não acumulou nada de riqueza ainda; mas envelhecer como vagabundo, desfrutando o ócio e a liberdade comprados com a poupança da juventude.

A opção da maioria é curtir a vida adoidado até os 30 e depois disso trabalhar adoidado pra pagar as contas, até porque por estudar pouco o emprego que se arruma geralmente não é lá grande coisa. Eu segui o caminho inverso, estudei adoidado até os 30 depois disso é que resolvi curtir a vida, e acho que com maturidade a curtimos de forma melhor e mais saudável. Repito: NÃO SOU RICO, NÃO QUERO UM MILHÃO, E NÃO PRECISO DELE!

Usando da própria experiência deixo abaixo uma sugestão dos 10 mandamentos do vagabundo profissional:

Aproveite a tenra idade e o vigor físico e estude, estude e estude. E no intervalo dos estudos  trabalhe, trabalhe e trabalhe. É um “sofrimento” necessário no começo.

Homem tende a ser meio idiota, geralmente gasta toda a grana com um carrão, financiado, para impressionar as mulheres. Mas, acorde! Nem todas as mulheres ligam pra isso, e as que ligam são exatamente aquelas que vão exigir que você pague também a conta cara do bar, a academia, as compras, as roupas e, no fim, se a Lei de Murphy te pegar, também a pensão. Portanto, fará papel de idiota duas vezes. Isso se não levar um pé na bunda antes porque ela fugiu com outro idiota que tinha mais dinheiro que você, ou não - o Eike Batista com toda aquela grana não segurou a Luma de Oliveira meus caros. Portanto, se você é um inveterado mulherengo ao menos evite os exageros e gaste menos dinheiro com cachaça e mulherada, até porque depois dos 30, se não tiverem levado todo o seu dinheiro com pensões, você vai querer continuar fazendo isso. E é exatamente nesse momento que mais precisará de dinheiro, mas não o terá porque torrou tudo antes.

Um carro mais caro pode não te garantir sucesso com as mulheres, mas com certeza lhe trará mais custos. Portanto carro mais caro = IPVA mais caro, seguro mais caro, reparos mais caros. Não precisa exagerar e andar num fusca 66 caindo aos pedaços. Sua poupança crescerá mas, com certeza, não pegará ninguém. Ou seja, contente-se com o que o seu bolso pode comprar e engorde a poupança!

Estabeleça prioridades e tenha um foco. Não dá pra sair com todas as mulheres, trocar de carro todo ano, ir em todas as baladas, beber todas as cervejas, fazer todos os cruzeiros. Centre o foco, escolha 1 dia da semana pra entornar o caldo; tente ser monogâmico, do ponto de vista financeiro sai bem mais barato; faça 1 cruzeiro ou uma viagem ao exterior por ano. Se a Europa não dá, vá pra Argentina ou Chile.

Estabeleça uma meta mensal de poupança, como 10% ou 20% do salário, R$200 por mês etc. Coloque esses valores na planilha que postei no artigo do tio patinhas e veja o quanto terá aos 35 ou 40 anos. Faça simulações e veja o quanto te satisfaz de retirada mensal. Poupança maior = retirada maior!

Use sempre camisinha, e das boas – e aqui não deve ter economia alguma. Ou seja, adie a paternidade. Deixe os filhos pros 32 ou 33 anos. Terá uma vida financeira melhor estruturada, e a cabeça também, porque casar e morar na casa da sogra … pqp … é fim de carreira. E, neste caso – apenas nele – a sua sogra terá razão em ser chata, afinal ter um vagabundo (sem aspas) mamando nas tetas dela é demais.

Tente entender um pouco de economia e finanças pra não depender sempre do rendimento da poupança, que as vezes não cobre sequer a inflação.

NUNCA se preocupe se vão te achar pão duro ou miserável – cuidado pra não deixar de comer pra poupar pois não tem sentido. Se você tem suas prioridades e é feliz com elas isso é o que importa, não entendo porque às vezes temos a necessidade de sermos felizes pros outros. Boa parte dos que passaram a vida me chamando de miserável hoje não tem bem algum, trabalham o dia todo, estão com uma penca de filhos (não planejados), e ganham salários medíocres. Mas, observe que só acho isso medíocre se esse estilo de vida não faz o sujeito feliz, e a maioria não é.

Lembre-se: o tempo não pára, não dá pra voltar atrás e corrigir os erros do passado. Depois que a cerveja virou xixi, ou o espermatozóide um filho, já era!

10º Se você chegar até aqui, NÃO POUPE MAIS! Pratique um esporte, viaje, namore (mas fuja das periguetes!), case, tenha filhos, SEJA FELIZ. Surfar, voar ou apenas caminhar na praia no meio da semana é bom demais, acredite!

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Mas, qual o valor de uma vida feliz?

Os resultados de uma pesquisa realizada por 2 professores da universidade de Princeton (EUA), entre 2008 e 2009 – um economista escocês e um psicólogo israelense (o único psicólogo no mundo a receber um Nobel de economia) – mostram uma correlação entre a riqueza de um indivíduo e o bem estar que ela o proporciona. Resumidamente, a riqueza aumenta a felicidade quando serve para retirar as pessoas da pobreza e levá-las à classe média. Além desse ponto, riqueza adicional não trará MAIS felicidade, ela se estabilizará. Pelos dados concluíram que isso se dá, nos EUA, a um valor aproximado de 75.000 dólares anuais, o equivalente, hoje a (dólar a R$1,65), aproximadamente, 120.000 reais (10.000 de renda mensal). O que eles concluem é que acima desses 75 mil a curva de bem estar social se estabiliza, ou seja, os que ganham 5 milhões de dólares no ano não são mais felizes que os que ganham 75 mil, ambos têm o mesmo nível de satisfação. A explicação é relativamente simples e a reproduzo tal qual a reportagem da revista: “Para ganhar mais as pessoas assumem atividades mais estressantes e dedicam menos tempo livre a atividades que lhes dão prazer – sair para tomar uma cerveja com amigos, passear com os filhos, assistir aos seriados favoritos na TV ou mesmo entregar-se ao dolce far niente.” (Revista Veja, pg. 96, setembro de 2010). Ou seja, a economia, como acontece com a maioria das ciências humanas, também se vale da psicologia para entender alguns fenômenos que contradizem o senso comum. Nessa pesquisa, o valor de 75 mil é interessante, pois ele é suficiente para colocar o indivíduo na classe média, garantindo seu carro novo, TV nova, plano de saúde, e a compra de atividades de lazer. Em suma meus caros, o Eike Batista não é, necessariamente, mais feliz do que a gente.

PS: apesar de esse manual parecer direcionado ao mundo masculino também se aplica às mulheres. A vantagem nesse caso é que tendem a serem menos idiotas que os homens em alguns aspectos. Portanto, são menos mandamentos a serem seguidos. De resto, é só trocar a palavra “carro” por “roupas e sapatos”.

 

 Tarcísio A. Giesen