.anitnelav

 
registro: 15/03/2007
"Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação."
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Um rei nunca perde a majestade

Passada a euforia das finais de campeonatos, agora se pode falar mais calmamente sobre ser o melhor.

Ganhar um prêmio faz de quem venceu melhor de quem o perdeu? Se aquele que perdeu já tem uma história, ela se perde ao ser derrotado? Uma vitória faz com que todos os fatos ruins sejam esquecidos, ou então, uma derrota faz como que se esqueça tudo de bom que o derrotado já fez?

Como o que me levou a escrever isto foi um jogo de futebol, quero citar 3 exemplos, que a meu ver descrevem claramente o que questiono acima. Talvez muitos não se lembrem, mas como eu sou jovem há bastante tempo, são fatos ocorridos alguns (poucos, claro rs) anos atrás, ocorridos nas Copas de 1990, 1994 e 2006.

 

1990

“A Copa de 1990 entrou para a história como uma Copa de equipes defensivas, que jogavam apenas para alcançar o resultado. É geralmente conhecida como o marco que separa o futebol antigo, pautado no "futebol arte", do moderno, com seu "futebol força". A Itália, dona da casa, era grande favorita ao título; Brasil e Argentina, jogaram um futebol retrancado e apático. O grande destaque foi a seleção de Camarões que vinha na contramão dos times retrancados, jogando um futebol alegre e cheio de energia, tendo por destaque o atacante Roger Milla.”

Sendo argentina, eu deveria desgostar da equipe de Camarões, uma vez que eles nos venceram no jogo de estréia. Camarões foi eliminado nas quartas-de-final, e foi nesse momento que, a meu ver, a Copa de 1990 acabou, porque esse time foi o que mais jogou com garra. Mesmo para quem não entendia nada de futebol, era um prazer assistir às suas partidas, porque se via no rosto deles o orgulho de estarem ali e a gana de vencer, de dar orgulho aos seus patrícios, enfim, pessoas simples que chegaram ao máximo de seu esporte.


   

1994

“Roberto Baggio, apesar de toda a sua habilidade, ficou mais marcado no futebol, ao menos fora de seu país, pelo pênalti perdido na final da Copa do Mundo de 1994, fazendo com que a Itália perdesse o tetracampeonato para o Brasil.”

O que mais me lembro desse episódio foi um insuportável locutor dizer “de quem eles esperavam tudo, não fez nada”. Baggio foi impecável em todos os jogos, e num momento de muita tensão, cansaço e pressão ele “falhou” (?).


 

2006

“Zinedine Zidane levou a França à final da Copa do Mundo. E foi um dos maiores responsáveis pela derrota do país. Na decisão contra a Itália, o francês fazia a sua despedida do futebol. E seu último lance nos gramados foi lamentável. Zidane deu uma cabeçada no peito do zagueiro italiano Materazzi e recebeu o cartão vermelho. Com um jogador a menos, a França não teve forças para atacar a Itália na prorrogação. A decisão, então, foi para os pênaltis. Os italianos se deram melhor e conquistaram o tetracampeonato mundial. A última imagem de Zidane em campo foi simbólica: desceu aos vestiários passando ao lado da taça, que ficaria com a Itália após os azzurri ganharem nos pênaltis o torneio. Ainda assim, Zidane foi bastante celebrado na volta à França, com o seu presidente Jacques Chirac declarando que "gostaria de expressar a minha estima a esse homem, que encarnou todos os valores mais belos do esporte e que honrou o país".

Como uma pessoa, que aos olhos de muita gente, teve um “lamentável ato”, pode ser recebida com honras em seu país? Quem conhece mais seu “herói” senão seus próprios compatriotas?

   

 

Três exemplos que demonstram que quem já foi rei jamais perderá a sua majestade. Não são títulos que fazem alguém melhor que outro; o que determina o valor de uma pessoa é a sua conduta, como ela trata seus iguais e, principalmente, seus “diferentes”.